São Paulo: 3 dias!!!
Só três dias. Uma
grande pena. Quando fui pela primeira vez fiquei um pouco mais. Na verdade,
eram os idos de 2008... Ano conturbado. Estava para fazer 29 anos, no auge da
crise de separação. Fiquei um mês desempregada. Só um mês, mas o bastante para
fazer um rombo em minha vida financeira que, até então, era bem calma e
previsível, apesar do emprego não estável.
Quem me conhece
bem sabe o quanto amo arte, arquitetura, literatura, de gastronomia, de comprar
coisas boas com preços melhores ainda. Gosto. Muito... Imitando o famoso
comercial, “amo muito tudo isso”. E, quando me programei, havia feito isso por
um ano antes de, em setembro, finalmente viajar. E fui com destino(s) certo(s):
a Bienal de Arte de São Paulo.
A Bienal de Arte
é um evento magnífico que existe desde 1951! Sob o comando dos padrinhos da
arte brasileira, Yolanda Penteado e seu esposo Ciccilo Matarazzo, e sob os
auspícios dos mais aclamados artistas da época e contou com a participação, por
exemplo, de nada mais nada menos que Pablo Picasso, Lasar Segal, René Magritte,
Victor Brecheret, entre outros monstros sagrados das artes visuais mundiais. De
início ela
foi sediada no MAM, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, sediado na marquise
do Parque do Ibirapuera.
O prédio da Bienal no Ibirapuera foi projetado anos
depois por Niemeyer, por ocasião da comemoração dos 400 anos da Cidade de São
Paulo e o segundo andar é um deslumbre, por si só. Colunas e mais colunas
preenchem um espaço que ele, o rei dos vãos que desafiam os pobres engenheiros,
poderia ter deixado vazio para encher de arte. Mas, ele encheu da arte da
arquitetura. As rampas que permeiam o centro são igualmente lindas e bem características
dele: cheias de curvas e ondas bem femininas, sensuais e orgânicas.
A Fundação Bienal
de São Paulo foi criada em 1962 e tem como sede o pavilhão da Bienal. Ela é a
mantenedora e organizadora do evento, nascendo, portanto, com este fim. Só
passou a ser realizada lá no Ibirapuera a partir de sua sétima edição. Tem como
missão primordial apresentar e debater a arte contemporânea por meio de seus
eventos e á uma das mais influentes instituições internacionais de promoção da
arte de seu tempo, tendo impacto no ambiente das artes visuais. Desde sua
primeira edição em 1951, a Bienal conta, até agora, com a participação de mais
de 14 mil artistas de 160 países, que apresentaram 67 mil obras e já recebeu
cerca de impressionantes 8 milhões de visitantes!!!
Pois é... Eu,
professora de Língua Portuguesa e uma grande apaixonada pelas Vanguardas Artísticas,
queria muito, por muitos anos, ver a arca das artes do Brasil, o local que
traz, ainda hoje, artistas de vanguarda para expor o seu melhor. Tomie Otake já
expôs ali e tantos outros artistas que nem se pode enumerar. Já teve até fusca
cor de rosa pendurado no teto por elásticos, no melhor estilo “bug jump” de
arte. E eu estava sedenta por isso. 2008 era o ano da Bienal. Era o meu ano. O
ano da mudança. Mas, como em toda mudança, nem tudo acontece como a gente
deseja...
A mulherada com
quem viajei estava cheia de grana. Todas, como eu, haviam guardado dinheiro por
um ano, aguardando essa viagem. Mas, eu, como fiquei desempregada por um mês,
tive de gastar boa parte do dinheirinho para pagar cartão e poder me manter
durante esse tempo. Não era muita grana, obviamente. Porém, quem mora e vive em
Brasília sabe muito bem que pouco dinheiro é pouco mesmo. Em São Paulo, quem
tem 3000,00 no bolso é rei. E eu já não tinha isso.
Meu pai foi
extremamente generoso: deu, a mim e à minha irmã, as passagens – milhas – e a
hospedagem – diárias de plano de turismo. Mesmo assim, claro que eu já não
poderia ficar para cima e para baixo de táxi sozinha e ainda pagar os museus
que queria visitar. Eram muitos. Comprar roupas? Vixe, não dava mais, não.
Mas, as
companheiras queriam tudo e podiam tudo. E, como foram antes de mim, acabaram
indo sem mim para alguns dos lugares que queria muito: Pinacoteca, Museu da
Língua Portuguesa... Fora o tanto que compraram e compraram. Sem problemas, eu
estava mesmo doida era para ir à Bienal. Chegou o dia, enfim, em que fomos. Que
decepção, meu Deus!
Naquele ano o
governo de São Paulo não repassou a tempo a verba para a realização do evento.
Corria-se o risco de ela sequer acontecer. Aconteceu. Se o protótipo da
primeira foi sob os auspícios dos deuses das artes, da literatura, do teatro e
ainda dos amantes da cultura, aquela foi a chamada “Bienal do Vazio”. O segundo
andar não tinha nada. Quase a musiquinha: “Era uma casa muito engraçada, não
tinha teto, não tinha nada...” Tudo vazio. Os artistas protestaram dizendo que
arte não se faz assim, a toque de caixa. E é verdade, né?
Tudo preto e
branco. Sem cores. Outro protesto. A arte tem de ser incentivada para ter
encanto(?) e o artista responsável pelo segundo pavimento quis, então, mostrar
a arte da própria arquitetura de Niemeyer, que Deus o tenha em santo lugar,
apesar de ateu.
Pois é... E
quando fui ao MASP, lotaaaaaaaaaaaaado! Restou-me o consolo da feirinha de
antiguidades de lá e a beleza do Trianon. Beleza. Belíssimo prédio localizado
na bela Avenida Paulista, bem em frente ao lindinho parque Trianon. Ele já é uma
obra de arte por si só. Projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo
Bardi, é um prédio erguido por 4 pilares com um vão de incríveis 70 metros.
Segundo a
Wikipedia, “o MASP possui a mais
importante e abrangente coleção de arte ocidental da América Latina e de todo o hemisfério sul”.
Fui a São Paulo. O bastante para ver que o Centro é
maravilhoso, ir ao Mercadão e provar o famoso pastel de bacalhau, e comer no
Sujinho... E rir bastante, apesar de o coração estar muito aflito e de ter
muita vontade de voltar.
Muita água se
passou debaixo da ponte. 8 anos entre ali e acolá. E minha vida mudou muito. Eu
mudei. E a maior mudança foi a maternidade, claro, óbvio e evidente. E que
agora eu não estou sozinha nunca, nunquinha, graças a Deus. Agora, além de uma
menina linda e esperta, tenho o marido que me surpreende a cada dia.
Dessa vez o
presente de aniversário veio com o presente das “experiências de vida”. Prefiro
mesmo. Ele me conhece. E eis que no envelope as reservas de passagens e de
hotel em Sampa!!! Na Avenida Paulista!!!
Não foi para a
Bienal. Gostaria de voltar para a Bienal, quem sabe. Sem a pequena, para
namorar um pouco... Quiçá, quiçá, quiçá!
Eis aqui, depois
dessa introdução gigantesca sobre a minha vida e o breve episódio São Paulo e a
Bienal do Vazio, um pouco desses três dias pelo Centro.
Senhores
passageiros, apertem os cintos e boa viagem!
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