segunda-feira, 15 de agosto de 2016

São Paulo: 3 dias!!!

                Só três dias. Uma grande pena. Quando fui pela primeira vez fiquei um pouco mais. Na verdade, eram os idos de 2008... Ano conturbado. Estava para fazer 29 anos, no auge da crise de separação. Fiquei um mês desempregada. Só um mês, mas o bastante para fazer um rombo em minha vida financeira que, até então, era bem calma e previsível, apesar do emprego não estável.
                Quem me conhece bem sabe o quanto amo arte, arquitetura, literatura, de gastronomia, de comprar coisas boas com preços melhores ainda. Gosto. Muito... Imitando o famoso comercial, “amo muito tudo isso”. E, quando me programei, havia feito isso por um ano antes de, em setembro, finalmente viajar. E fui com destino(s) certo(s): a Bienal de Arte de São Paulo.
                A Bienal de Arte é um evento magnífico que existe desde 1951! Sob o comando dos padrinhos da arte brasileira, Yolanda Penteado e seu esposo Ciccilo Matarazzo, e sob os auspícios dos mais aclamados artistas da época e contou com a participação, por exemplo, de nada mais nada menos que Pablo Picasso, Lasar Segal, René Magritte, Victor Brecheret, entre outros monstros sagrados das artes visuais mundiais. De início ela foi sediada no MAM, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, sediado na marquise do Parque do Ibirapuera.
O prédio da Bienal no Ibirapuera foi projetado anos depois por Niemeyer, por ocasião da comemoração dos 400 anos da Cidade de São Paulo e o segundo andar é um deslumbre, por si só. Colunas e mais colunas preenchem um espaço que ele, o rei dos vãos que desafiam os pobres engenheiros, poderia ter deixado vazio para encher de arte. Mas, ele encheu da arte da arquitetura. As rampas que permeiam o centro são igualmente lindas e bem características dele: cheias de curvas e ondas bem femininas, sensuais e orgânicas.
                A Fundação Bienal de São Paulo foi criada em 1962 e tem como sede o pavilhão da Bienal. Ela é a mantenedora e organizadora do evento, nascendo, portanto, com este fim. Só passou a ser realizada lá no Ibirapuera a partir de sua sétima edição. Tem como missão primordial apresentar e debater a arte contemporânea por meio de seus eventos e á uma das mais influentes instituições internacionais de promoção da arte de seu tempo, tendo impacto no ambiente das artes visuais. Desde sua primeira edição em 1951, a Bienal conta, até agora, com a participação de mais de 14 mil artistas de 160 países, que apresentaram 67 mil obras e já recebeu cerca de impressionantes 8 milhões de visitantes!!!
                Pois é... Eu, professora de Língua Portuguesa e uma grande apaixonada pelas Vanguardas Artísticas, queria muito, por muitos anos, ver a arca das artes do Brasil, o local que traz, ainda hoje, artistas de vanguarda para expor o seu melhor. Tomie Otake já expôs ali e tantos outros artistas que nem se pode enumerar. Já teve até fusca cor de rosa pendurado no teto por elásticos, no melhor estilo “bug jump” de arte. E eu estava sedenta por isso. 2008 era o ano da Bienal. Era o meu ano. O ano da mudança. Mas, como em toda mudança, nem tudo acontece como a gente deseja...
                A mulherada com quem viajei estava cheia de grana. Todas, como eu, haviam guardado dinheiro por um ano, aguardando essa viagem. Mas, eu, como fiquei desempregada por um mês, tive de gastar boa parte do dinheirinho para pagar cartão e poder me manter durante esse tempo. Não era muita grana, obviamente. Porém, quem mora e vive em Brasília sabe muito bem que pouco dinheiro é pouco mesmo. Em São Paulo, quem tem 3000,00 no bolso é rei. E eu já não tinha isso.
                Meu pai foi extremamente generoso: deu, a mim e à minha irmã, as passagens – milhas – e a hospedagem – diárias de plano de turismo. Mesmo assim, claro que eu já não poderia ficar para cima e para baixo de táxi sozinha e ainda pagar os museus que queria visitar. Eram muitos. Comprar roupas? Vixe, não dava mais, não.
                Mas, as companheiras queriam tudo e podiam tudo. E, como foram antes de mim, acabaram indo sem mim para alguns dos lugares que queria muito: Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa... Fora o tanto que compraram e compraram. Sem problemas, eu estava mesmo doida era para ir à Bienal. Chegou o dia, enfim, em que fomos. Que decepção, meu Deus!
                Naquele ano o governo de São Paulo não repassou a tempo a verba para a realização do evento. Corria-se o risco de ela sequer acontecer. Aconteceu. Se o protótipo da primeira foi sob os auspícios dos deuses das artes, da literatura, do teatro e ainda dos amantes da cultura, aquela foi a chamada “Bienal do Vazio”. O segundo andar não tinha nada. Quase a musiquinha: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...” Tudo vazio. Os artistas protestaram dizendo que arte não se faz assim, a toque de caixa. E é verdade, né?
                Tudo preto e branco. Sem cores. Outro protesto. A arte tem de ser incentivada para ter encanto(?) e o artista responsável pelo segundo pavimento quis, então, mostrar a arte da própria arquitetura de Niemeyer, que Deus o tenha em santo lugar, apesar de ateu.
                Pois é... E quando fui ao MASP, lotaaaaaaaaaaaaado! Restou-me o consolo da feirinha de antiguidades de lá e a beleza do Trianon. Beleza. Belíssimo prédio localizado na bela Avenida Paulista, bem em frente ao lindinho parque Trianon. Ele já é uma obra de arte por si só. Projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, é um prédio erguido por 4 pilares com um vão de incríveis 70 metros.
                Segundo a Wikipedia, “o MASP possui a mais importante e abrangente coleção de arte ocidental da América Latina e de todo o hemisfério sul”.
Fui a São Paulo. O bastante para ver que o Centro é maravilhoso, ir ao Mercadão e provar o famoso pastel de bacalhau, e comer no Sujinho... E rir bastante, apesar de o coração estar muito aflito e de ter muita vontade de voltar.
                Muita água se passou debaixo da ponte. 8 anos entre ali e acolá. E minha vida mudou muito. Eu mudei. E a maior mudança foi a maternidade, claro, óbvio e evidente. E que agora eu não estou sozinha nunca, nunquinha, graças a Deus. Agora, além de uma menina linda e esperta, tenho o marido que me surpreende a cada dia.
                Dessa vez o presente de aniversário veio com o presente das “experiências de vida”. Prefiro mesmo. Ele me conhece. E eis que no envelope as reservas de passagens e de hotel em Sampa!!! Na Avenida Paulista!!!
                Não foi para a Bienal. Gostaria de voltar para a Bienal, quem sabe. Sem a pequena, para namorar um pouco... Quiçá, quiçá, quiçá!
                Eis aqui, depois dessa introdução gigantesca sobre a minha vida e o breve episódio São Paulo e a Bienal do Vazio, um pouco desses três dias pelo Centro.
                Senhores passageiros, apertem os cintos e boa viagem!

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